Prosseguindo num novo itinerário de exploração dos Novos Pensadores em 2019 vamos continuar a ler e comentar o último livro de Yuval Harari (2018):
HARARI, Yuval (2018). 21 lessons for the 21st century. New York: Spiegel & Grau, 2018.
Vamos usar a tradução brasileira de Paulo Geiger. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
Para baixar o PDF com o texto integral clique aqui: 21-licoes-para-o-seculo-21-Yuval-Noah-Harari
Já foi publicada a Introdução
Também já foi publicada a Parte I. 1. – Desilusão
E ainda:
As notas em azul servem apenas como provocações para a conversação.
Vamos agora continuar a Parte II.
PARTE II
O desafio político
A fusão da tecnologia da informação com a biotecnologia ameaça os valores modernos
centrais de liberdade e igualdade. Toda solução para o desafio tecnológico deve envolver cooperação global.
Porém o nacionalismo, a religião e a cultura dividem o gênero humano em campos hostis e fazem com que seja muito difícil cooperar no nível global.
6. Civilização
Só existe uma civilização no mundo
Enquanto Mark Zuckerberg sonha em unificar o gênero humano on-line, eventos recentes no mundo off-line parecem dar vida nova à tese do “choque de civilizações”. Muitos especialistas, políticos e cidadãos comuns acreditam que a guerra civil na Síria, o surgimento do Estado Islâmico, a confusão do Brexit e a instabilidade da União Europeia resultaram de um choque entre a “Civilização Ocidental” e a “Civilização Islâmica”. Tentativas do Ocidente para impor democracia e direitos humanos em nações muçulmanas resultaram numa violenta reação islâmica, e uma onda de imigração muçulmana juntamente com ataques terroristas islâmicos fizeram com que eleitores europeus abandonassem sonhos multiculturais em favor de identidades xenofóbicas locais.
Segundo essa tese, o gênero humano sempre esteve dividido em diversas civilizações cujos membros viam o mundo de maneiras irreconciliáveis. Essas visões de mundo incompatíveis tornam inevitáveis os conflitos entre civilizações. Assim como na natureza espécies diferentes lutam pela sobrevivência de acordo com as impiedosas leis da seleção natural, ao longo da história civilizações têm entrado em choque repetidamente, e apenas a mais bem preparada sobrevivia. Os que ignoram esse triste fato — sejam políticos liberais ou engenheiros com a cabeça nas nuvens — o fazem por sua conta e risco (1).
A tese do “choque de civilizações” tem implicações políticas profundas. Os que a apoiam argumentam que toda tentativa de reconciliar “o Ocidente” com o “mundo muçulmano” está condenada ao fracasso. Os países muçulmanos nunca adotarão valores ocidentais, e os países ocidentais nunca seriam capazes de absorver com sucesso minorias muçulmanas. De acordo com isso, os Estados Unidos não deveriam admitir imigrantes da Síria ou do Iraque e a União Europeia deveria renunciar a sua falácia multicultural em benefício de uma identidade ocidental desavergonhada. No longo prazo, somente uma civilização é capaz de sobreviver aos implacáveis testes da seleção natural, e, se os burocratas em Bruxelas se recusarem a salvar o Ocidente do perigo islâmico, melhor que a Inglaterra, a Dinamarca ou a França façam isso sozinhas.
Embora muito defendida, essa tese é enganosa. O fundamentalismo islâmico pode de fato representar um desafio radical, porém a “civilização” que ele desafia é uma civilização global e não um fenômeno unicamente ocidental. Não à toa o Estado Islâmico conseguiu se unir contra o Irã e os Estados Unidos. E até mesmo fundamentalistas islâmicos, apesar de suas fantasias medievais, estão calcados na cultura contemporânea global muito mais do que na Arábia do século VII. Eles contribuem para os medos e as esperanças da juventude moderna alienada e não dos camponeses e mercadores medievais. Como alegaram convincentemente Pankaj Mishra e Christopher de Bellaigue, islâmicos radicais têm sido influenciados tanto por Marx e Foucault quanto por Maomé, e herdaram o legado de anarquistas europeus do século XIX tanto quanto o dos califas omíadas e abássidas (2). É portanto mais correto considerar até mesmo o Estado Islâmico um desdobramento erradio da cultura global que todos compartilhamos, e não um ramo de uma misteriosa árvore alienígena.
Mais importante, a analogia entre história e biologia que sustenta a tese do “choque de civilizações” é falsa. Grupos humanos — desde pequenas tribos até imensas civilizações — são fundamentalmente diferentes de espécies animais, e conflitos históricos diferem em muito de processos de seleção natural. Espécies animais têm identidades objetivas que duram milhares e milhares de gerações. O fato de você ser um chimpanzé ou um gorila depende de seus genes e não de suas crenças, e genes diferentes determinam comportamentos sociais distintos. Chimpanzés vivem em grupos mistos de machos e fêmeas. Eles competem pelo poder formando coalizões de apoiadores de ambos os sexos. Entre os gorilas, em contraste, um único macho dominante estabelece um harém de fêmeas, e comumente expulsa todo macho adulto que possa desafiar sua posição. Chimpanzés não são capazes de adotar a estrutura social dos gorilas; gorilas não são capazes de se organizar como chimpanzés; e até onde sabemos chimpanzés e gorilas têm vivido nos mesmos sistemas sociais não somente em décadas recentes, mas por centenas de milhares de anos.
Não há nada parecido com isso entre humanos. Sim, grupos humanos têm sistemas sociais distintos, mas eles não são determinados geneticamente, e quase nunca duram mais que alguns séculos. Pense nos alemães do século XX, por exemplo. Em menos de cem anos eles se organizaram em seis sistemas diferentes: o Império Hohenzollern, a República de Weimar, o Terceiro Reich, a República Democrática Alemã (também conhecida como Alemanha Oriental, comunista), A República Federal da Alemanha (também conhecida como Alemanha Ocidental), e finalmente a Alemanha reunificada, democrática. É claro que os alemães mantiveram sua língua e seu amor por cerveja e salsicha. Mas existirá alguma essência alemã única que os distingue de todas as outras nações e que se manteve inalterada de Guilherme II até Angela Merkel? E se existir, será que também estava lá mil ou 5 mil anos atrás?
O Preâmbulo da Constituição Europeia (não ratificado) começa declarando que se inspira “na herança cultural, religiosa e humanista da Europa, da qual desenvolveram-se os valores universais dos invioláveis e inalienáveis direitos da pessoa humana, da democracia, da igualdade, da liberdade do estado de direito” (3). Isso poderia dar a impressão de que a civilização europeia é definida pelos valores dos direitos humanos, da democracia, da igualdade e da liberdade. Incontáveis discursos e documentos traçam uma linha direta da antiga democracia ateniense até a atual União Europeia, celebrando 2,5 mil anos de liberdade e democracia europeias. Isso faz lembrar a parábola do homem cego que apalpa a cauda de um elefante e chega à conclusão de que o elefante é uma espécie de pincel. Sim, ideias democráticas têm sido parte da cultura Europeia durante séculos, mas nunca constituíram o todo. Apesar de toda sua glória e influência, a democracia ateniense foi um experimento ambíguo que mal sobreviveu duzentos anos num pequeno canto dos Bálcãs. Se o que definiu a civilização europeia nos últimos 25 anos foi a democracia e os direitos humanos, onde entram Esparta e Júlio César, os cruzados e os conquistadores, a Inquisição e o comércio de escravos, Luís XIV e Napoleão, Hitler e Stálin? Foram todos intrusos de alguma civilização estrangeira?
Na verdade, a civilização europeia é tudo aquilo que os europeus fizeram dela, assim como o cristianismo é tudo o que os cristãos fizeram dele, o Islã é tudo o que os muçulmanos fizeram dele, e o judaísmo é tudo o que os judeus fizeram dele. E eles fizeram disso coisas notavelmente diferentes ao longo de séculos. Grupos humanos se definem mais pelas mudanças por que passam do que pela continuidade, mas ainda assim eles conseguem criar para si mesmos identidades antigas graças a seu talento para contar histórias. Não importa quais revoluções experimentem, normalmente são capazes de tecer o antigo e o novo numa trama única.
Até mesmo um indivíduo pode entretecer mudanças pessoais radicais numa narrativa de vida coerente e poderosa: “Eu sou aquela pessoa que já foi socialista, mas depois se tornou capitalista; nasci na França e agora vivo nos Estados Unidos; eu era casado e depois me divorciei; eu tive câncer, e depois me curei”. Da mesma forma, um grupo humano, como os alemães, pode vir a se definir pelas grandes mudanças pelas quais passou: “Fomos nazistas, mas aprendemos nossa lição e agora somos democratas pacifistas”. Não precisamos procurar alguma essência alemã única que se tenha manifestado primeiro em Guilherme II, depois em Hitler, e finalmente em Merkel. Essas transformações radicais são exatamente o que define a identidade alemã. Ser alemão em 2018 quer dizer estar vinculado ao difícil legado do nazismo e defender valores liberais e democráticos. Ninguém sabe o que significará em 2050.
As pessoas com frequência se recusam a ver essas mudanças, principalmente quando isso atinge valores políticos e religiosos centrais. Insistimos em que nossos valores são um precioso legado de antigos ancestrais. A única coisa que nos permite dizer isso é o fato de nossos ancestrais estarem mortos há muito tempo e não poderem falar por si mesmos. Considere-se, por exemplo, as atitudes judaicas em relação às mulheres. Atualmente judeus ultraortodoxos banem imagens de mulheres da esfera pública. Outdoors e anúncios dirigidos a judeus ultraortodoxos exibem apenas homens e meninos — nunca mulheres e meninas (4).
Em 2011 um escândalo irrompeu quando um jornal ultraortodoxo do Brooklyn, Di Tzeitung, publicou uma foto de membros do governo norte-americano assistindo à operação de captura de Osama bin Laden — mas apagou digitalmente todas as mulheres da foto, incluindo a secretária de Estado Hillary Clinton. O jornal explicou que fora obrigado a fazer isso devido às “leis de recato” judaicas. Escândalo semelhante aconteceu quando o jornal HaMevasser removeu Angela Merkel da fotografia de uma manifestação contra o massacre do jornal francês Charlie Hebdo, para que sua imagem não despertasse quaisquer pensamentos libidinosos nas mentes de leitores religiosos. O editor de um terceiro jornal ultraortodoxo, Hamodia, defendeu essa política explicando: “Estamos fundamentados em milhares de anos de tradição judaica” (5).
Em nenhum lugar a proibição de olhar para mulheres é mais rigorosa do que numa sinagoga. Nas sinagogas ortodoxas as mulheres são cuidadosamente segregadas dos homens, e têm de se ocultar atrás de uma cortina, de modo que nenhum homem veja acidentalmente o vulto de uma mulher enquanto ele pronuncia suas preces ou lê as escrituras. Embora isso se baseie em milhares de anos de tradição judaica e em leis divinas imutáveis, como explicar o fato de que quando arqueólogos escavaram em Israel sinagogas antigas do tempo da Mishná e do Talmude não encontraram sinal de segregação de gênero, e em vez disso descobriram belos chãos de mosaico e pinturas em paredes que retratam mulheres, algumas delas bem pouco vestidas? Os sábios que escreveram a Mishná e o Talmude oravam e estudavam regularmente nessas sinagogas, porém os atuais judeus ortodoxos as considerariam blasfemas profanações de antigas tradições (6).
Distorções semelhantes caracterizam todas as religiões. O Estado Islâmico vangloria-se de ter se revertido à versão pura e original do Islã, porém escolhem muito discretamente quais textos citar e quais ignorar, e como interpretá-los. Na verdade, sua atitude faça-você-mesmo na interpretação de textos sagrados é em si mesma muito moderna. Segundo a tradição, a interpretação era monopólio dos ulama — eruditos que estudavam a lei e a teologia muçulmanas em instituições respeitáveis, como Al-Azhar, no Cairo. Poucos líderes do Estado Islâmico apresentam tais credenciais, e os mais respeitados ulama consideram Abu Bakr al-Baghdadi e os de sua laia criminosos e ignorantes (7).
Isso não quer dizer que o Estado Islâmico seja “não islâmico” ou “anti- islâmico”, como alegam algumas pessoas. É particularmente irônico que líderes cristãos como Barack Obama tenham a temeridade de dizer a muçulmanos autoproclamados, como Abu Bakr al-Baghdadi, o que significa ser muçulmano (8). A acalorada discussão sobre a verdadeira essência do Islã é simplesmente irrelevante. O Islã não tem um DNA fixo. O Islã é aquilo que os muçulmanos fizerem dele (9).
ALEMÃES E GORILAS
Há uma diferença ainda mais profunda que distingue grupos humanos de espécies animais. Espécies frequentemente se dividem, mas nunca se fundem. Chimpanzés e gorilas têm ancestrais comuns, que remontam a 7 milhões de anos atrás. Essa única espécie ancestral dividiu-se em duas populações que depois seguiram seus caminhos evolutivos separados. Uma vez que isso aconteceu, não havia caminho de volta. Como indivíduos que pertencem a espécies diferentes não são capazes de produzir juntos uma descendência fértil, espécies nunca se fundem. Gorilas não podem se fundir com chimpanzés, girafas não podem se fundir com elefantes, e cães não podem se fundir com gatos.
Tribos humanas, em contraste, tendem a se aglutinar com o tempo em grupos cada vez maiores. Os alemães modernos surgiram da fusão de saxões, prussianos, suábios e bávaros, que não faz muito tempo não tinham muito amor uns pelos outros. Diz-se que Otto von Bismarck observou (depois de ler A origem das espécies, de Darwin) que os bávaros são o elo perdido entre o austríaco e o humano (10). Os franceses surgiram da fusão de francos, normandos, bretões, gascões e provençais. Enquanto isso, no outro lado do canal, ingleses, escoceses, galeses e irlandeses aos poucos foram se agregando (voluntariamente ou não) para formar os britânicos. Num futuro não muito distante, alemães, franceses e britânicos ainda poderiam se fundir em europeus.
Fusões nem sempre duram, como atualmente sabem muito bem as pessoas em Londres, Edimburgo e Bruxelas. O Brexit pode muito bem dar início ao desmantelamento simultâneo do Reino Unido e da União Europeia. Mas, no longo prazo, a direção da história está definida. Dez mil anos atrás o gênero humano estava dividido em incontáveis tribos isoladas. A cada milênio que passava, elas se fundiam em grupos cada vez maiores, criando cada vez menos civilizações distintas. Nas gerações recentes as poucas civilizações remanescentes têm se mesclado numa única civilização global. As divisões políticas, étnicas, culturais e econômicas persistem, mas elas não minam a unidade fundamental. Na verdade, algumas divisões só se tornam possíveis devido a uma estrutura comum que prevalece sobre tudo. Na economia, por exemplo, a divisão do trabalho não pode ter êxito a menos que todos compartilhem um mercado único. Um país não pode se especializar na produção de carros ou petróleo a menos que possa comprar alimentos de outros países produtores de trigo e arroz.
O processo de unificação humana tem assumido duas formas: o estabelecimento de ligações entre grupos distintos e a homogeneização de práticas em todos os grupos. Podem-se formar ligações até mesmo entre grupos que continuam a se comportar de modos muitos diferentes. Na verdade, podem-se formar ligações até entre inimigos jurados. A própria guerra pode gerar algumas das mais fortes de todas as ligações humanas. Historiadores alegam frequentemente que a globalização atingiu um primeiro pico em 1913, depois entrou em longo declínio durante a época das guerras mundiais e da Guerra Fria, e só se recuperou após 1989 (11). Isso pode valer para a globalização econômica, porém ignora a dinâmica de globalização militar, igualmente importante. A guerra difunde ideias, tecnologias e pessoas muito mais rápido que o comércio. Em 1918 os Estados Unidos estavam mais estreitamente ligados à Europa do que em 1913, se afastaram nos anos entre guerras, e tiveram seus destinos entrelaçados inextricavelmente pela Segunda Guerra Mundial e pela Guerra Fria.
A guerra também faz as pessoas ficarem muito mais interessadas umas nas outras. Os Estados Unidos nunca tinham estado em contato tão próximo com a Rússia como durante a Guerra Fria, quando cada tosse num corredor de Moscou causava pânico em Washington. As pessoas se importam muito mais com seus inimigos do que com parceiros comerciais. Para cada filme americano sobre Taiwan, provavelmente há cinquenta sobre o Vietnã.
OS JOGOS OLÍMPICOS MEDIEVAIS
O mundo do início do século XXI foi muito longe na formação de ligações entre diferentes grupos. Pessoas em todo o mundo não só estão em contato umas com as outras como compartilham cada vez mais crenças e práticas idênticas. Mil anos atrás, a Terra era terreno fértil para dezenas de modelos políticos diferentes. Na Europa era possível encontrar principados feudais competindo com cidades-Estados independentes e minúsculas teocracias. O mundo muçulmano tinha seu califado, que reivindicava soberania universal, mas também fez experiências com reinos, sultanatos e emirados. Os impérios chineses acreditavam ser a única entidade política legítima, enquanto as confederações tribais a norte e oeste lutavam entre si jubilosamente. A Índia e o sudeste da Ásia continham um caleidoscópio de regimes, enquanto os regimes políticos na América, África e Australásia iam desde pequenos bandos de caçadores-coletores até extensos impérios. Não é de admirar que mesmo grupos humanos vizinhos tinham dificuldade em concordar quanto a procedimentos diplomáticos comuns, muito menos quanto a leis internacionais. Cada sociedade tinha seu próprio paradigma político, e achava difícil compreender e respeitar conceitos políticos estrangeiros.
Hoje, em contraste, um único paradigma político é aceito em toda parte. O planeta está dividido em cerca de duzentos Estados soberanos, que geralmente concordam com os mesmos protocolos diplomáticos e leis internacionais comuns. A Suécia, a Nigéria, a Tailândia e o Brasil aparecem em nosso atlas com a mesma cor; são todos membros da ONU; e malgrado miríades de diferenças todos são reconhecidos como Estados soberanos que desfrutam de direitos e privilégios semelhantes. De fato, eles compartilham muitas ideias e práticas políticas, inclusive pelo menos a crença simbólica em corpos representativos, partidos políticos, sufrágio universal e direitos humanos. Há parlamentos em Teerã, Moscou, Cidade do Cabo e Nova Delhi, bem como em Londres e Paris. Enquanto israelenses e palestinos, russos e ucranianos, curdos e turcos competem pelos favores da opinião pública global, todos usam o mesmo discurso de direitos humanos, soberania de Estado e lei internacional.
O mundo pode estar salpicado de vários tipos de “Estados falidos”, mas só conhece um paradigma para um Estado bem-sucedido. A política global segue assim o princípio de Anna Kariênina: Estados bem-sucedidos são todos parecidos, mas cada Estado falido entra em falência a seu próprio modo, ao lhe faltar este ou aquele ingrediente do pacote político dominante. O Estado Islâmico destacou-se recentemente pela rejeição total desse pacote, e em sua tentativa de estabelecer um tipo diferente de entidade política — um califado universal. Mas justamente por esse motivo fracassou. Numerosas forças de guerrilha e organizações terroristas conseguiram estabelecer novos países ou conquistar países existentes. Mas sempre fizeram isso aceitando os princípios fundamentais da ordem política global. Até mesmo o Talibã buscou reconhecimento internacional como o governo legítimo do país soberano do Afeganistão. Até agora, nenhum grupo que rejeita os princípios da política global obteve controle duradouro de qualquer território significativo.
A força do paradigma político global pode talvez ser melhor apreciada considerando-se não as questões políticas centrais da guerra e da diplomacia, e sim algo como os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio. Reflita por um momento no modo como os Jogos foram organizados. Os 11 mil atletas estavam agrupados em delegações por nacionalidade e não por religião, classe ou língua. Não havia uma delegação budista, uma delegação proletária ou uma delegação da língua inglesa. Exceto em alguns poucos casos — mais notavelmente Taiwan e Palestina —, a determinação da nacionalidade dos atletas era uma questão simples.
Na cerimônia de abertura, em 5 de agosto de 2016, os atletas marcharam em grupos, cada grupo portando sua bandeira nacional. Sempre que Michael Phelps ganhava mais uma medalha de ouro, a bandeira americana era erguida ao som do hino nacional americano. Quando Emilie Andéol ganhou a medalha de ouro no judô, a bandeira tricolor francesa foi hasteada e tocou-se A Marselhesa.
Muito convenientemente, cada país no mundo tem um hino que segue o mesmo modelo universal. Quase todos os hinos são peças orquestrais com alguns minutos de duração, e não uma cantoria de vinte minutos que só pode ser interpretada por uma casta hereditária especial de sacerdotes. Até mesmo países como Arábia Saudita, Paquistão e Congo adotaram convenções musicais ocidentais em seus hinos. A maioria deles soa como algo composto por um Beethoven pouco inspirado. (Você poderia passar uma noite com amigos ouvindo os vários hinos no YouTube e tentando adivinhar de que país é cada um.) Mesmo as letras são quase as mesmas no mundo todo, indicando conceitos comuns quanto a política e lealdade de grupo. Por exemplo, a que nação você acha que pertence o hino seguinte (só troquei o nome do país pelo genérico “Meu país”):
Meu país, minha pátria
A terra em que derramei meu sangue, É lá que me posto
Para ser o guardião de minha pátria. Meu país, minha nação,
Meu povo e minha pátria,
Proclamemos
“Una-se meu país!”
Vida longa a minha terra, vida longa a meu Estado, Minha nação, minha pátria, em sua inteireza.
Construa sua alma, desperte seu corpo, De meu grande país!
Meu grande país, independente e livre Meu lar e meu país que eu amo.
Meu grande país, independente e livre, Longa vida a meu grande país!
A resposta é Indonésia. Mas você ficaria surpreso se eu lhe dissesse que a resposta era na verdade Polônia, Nigéria ou Peru?
Bandeiras nacionais exibem a mesma enfadonha conformidade. Com uma única exceção, todas as bandeiras são peças retangulares de pano e apresentam um repertório extremamente limitado de cores, listras e formas geométricas. O Nepal é a estranha exceção, com uma bandeira que consiste em dois triângulos. (Mas nunca obteve uma medalha olímpica.) A bandeira indonésia consiste numa faixa vermelha acima de uma faixa branca. A bandeira polonesa exibe uma faixa branca acima de uma faixa vermelha. A bandeira de Mônaco é idêntica à da Indonésia. Uma pessoa daltônica dificilmente seria capaz de dizer qual é a diferença entre as bandeiras da Bélgica, do Chade, da Costa do Marfim, França, Guiné, Irlanda, Itália, do Mali e da Romênia — todas têm três faixas verticais de várias cores.
Alguns desses países estiveram envolvidos em guerras cruéis uns com os outros, mas durante o tumultuado século XX apenas três Jogos Olímpicos foram cancelados devido a guerras (em 1916, 1940 e 1944). Em 1980 os Estados Unidos e alguns de seus aliados boicotaram os Jogos Olímpicos de Moscou, em 1984 o bloco soviético boicotou os Jogos de Los Angeles, e em diversas outras ocasiões os Jogos estiveram no centro de uma tempestade política (mais notavelmente em 1936, quando a Berlim nazista sediou os Jogos, e em 1972, quando terroristas palestinos massacraram a delegação israelense nas Olimpíadas de Munique). Porém, no todo, controvérsias políticas não fizeram o projeto olímpico descarrilar.
Recuemos agora mil anos. Suponha que você quisesse realizar os Jogos Olímpicos Medievais no Rio, em 1016. Esqueça o fato de que então o Rio era uma pequena aldeia de índios tupis (12) e que asiáticos, africanos e europeus nem sequer tinham conhecimento da existência da América. Esqueça os problemas logísticos de trazer todos os melhores atletas do mundo para o Rio quando não havia aviões. Esqueça também que eram poucos os esportes praticados em todo o mundo, e, mesmo que todos os humanos fossem capazes de correr, nem todos seriam capazes de concordar com as mesmas regras para uma corrida. Apenas se pergunte como agrupar as delegações de competidores. Atualmente o Comitê Olímpico Internacional passa incontáveis horas discutindo as questões de Taiwan e da Palestina. Multiplique isso por 10 mil para fazer uma estimativa do número de horas que teria de dedicar à política nas Olimpíadas Medievais.
Para começar, em 1016 o Império Song chinês não reconhecia nenhuma entidade política na Terra como sua igual. Seria portanto uma humilhação impensável dar à sua delegação olímpica o mesmo status atribuído às delegações do reino coreano de Korio ou do reino vietnamita do Dai Co Viet sem falar das delegações de bárbaros primitivos de além-mar.
O califa em Bagdá também reivindicava soberania universal, e a maioria dos muçulmanos sunitas o reconhecia como líder supremo. Em termos práticos, no entanto, o califa mal governava a cidade de Bagdá. Assim, será que todos os atletas sunitas fariam parte de uma única delegação do califado, ou se dividiriam em dezenas de delegações dos numerosos emirados e sultanatos do mundo sunita? Mas por que ficar nos emirados e sultanatos? O deserto da Arábia estava cheio de tribos beduínas livres, que não reconheciam um soberano além de Alá. Estaria cada uma autorizada a enviar uma delegação independente para competir em tiro com arco ou corrida de camelos? A Europa lhe daria um bom número de dores de cabeça. Será que um atleta da cidade de normanda de Ivry competiria sob a bandeira do condado local de Ivry, de seu senhor o duque da Normandia, ou talvez do débil rei de França?
Muitas dessas entidades políticas apareceram e desapareceram numa questão de anos. Enquanto você estivesse preparando os Jogos Olímpicos de 1016, não poderia saber antecipadamente quais delegações iriam se apresentar, porque ninguém podia ter certeza de quais entidades políticas ainda existiriam no ano seguinte. Se o reino da Inglaterra tivesse enviado uma delegação aos Jogos de 1016, quando os atletas voltassem para casa com suas medalhas descobririam que os dinamarqueses tinham acabado de capturar Londres, e que a Inglaterra estava sendo absorvida pelo Império do rei Canuto, o Grande, no mar do Norte, junto com a Dinamarca, a Noruega e partes da Suécia. Dentro de mais vinte anos, esse império se desintegrou, mas trinta anos depois a Inglaterra foi novamente conquistada, pelo duque da Normandia.
Não é necessário lembrar que a vasta maioria dessas efêmeras entidades políticas não tinha um hino para tocar nem uma bandeira para hastear. Símbolos políticos eram de grande importância, é claro, mas a linguagem simbólica da política europeia era diferente das linguagens simbólicas da política indonésia, chinesa ou tupi. Chegar a um acordo quanto a um protocolo comum para assinalar uma vitória teria sido praticamente impossível.
Assim, quando você assistir aos Jogos de Tóquio, em 2020, lembre-se de que o que parece ser uma competição entre nações é na verdade um acordo global impressionante. Com todo o orgulho nacional que as pessoas sentem quando sua delegação ganha uma medalha de ouro e sua bandeira é alçada, existe motivo ainda maior para sentir orgulho de a humanidade ser capaz de organizar um evento assim.
UM DÓLAR PARA GOVERNAR A TODOS
Em tempos pré-modernos os humanos experimentaram não somente diversos sistemas políticos, mas também uma espantosa variedade de modelos econômicos. Boiardos russos, marajás indianos, mandarins chineses e caciques de tribos ameríndias tinham ideias muito diferentes sobre dinheiro, comércio, impostos e emprego. Hoje em dia, em contraste, quase todo mundo acredita em pequenas variações sobre o mesmo tema capitalista, e somos engrenagens de uma única linha de produção global. Quer você viva no Congo ou na Mongólia, na Nova Zelândia ou na Bolívia, suas rotinas diárias e fortunas econômicas dependem das mesmas teorias econômicas, das mesmas corporações e dos mesmos bancos, e das mesmas correntes de capital. Se os ministros da Fazenda de Israel e do Irã se encontrassem num almoço, eles teriam uma linguagem econômica comum e poderiam facilmente compartilhar suas agruras.
Quando o Estado Islâmico conquistou grande parte da Síria e do Iraque, assassinou dezenas de milhares de pessoas, demoliu sítios arqueológicos, derrubou estátuas e destruiu sistematicamente os símbolos dos regimes anteriores e da influência cultural do Ocidente (13). Mas quando seus combatentes entraram nos bancos locais e encontraram esconderijos com dólares americanos com rostos de presidentes americanos e frases em inglês louvando ideais políticos e religiosos americanos, não queimaram esses símbolos do imperialismo americano. Pois a cédula de dólar é universalmente venerada por todos os segmentos políticos e religiosos. Embora não tenha um valor intrínseco — não se pode comer ou beber uma nota de dólar —, a confiança no dólar e na sensatez do Federal Reserve é tão firme que é compartilhada até mesmo por fundamentalistas islâmicos, traficantes mexicanos e tiranos norte-coreanos.
Porém a homogeneidade contemporânea é mais evidente quando se trata de nossa maneira de ver o mundo natural e do corpo humano. Se você ficasse doente mil anos atrás, importava muito o lugar onde vivia. Na Europa, o sacerdote local provavelmente lhe diria que você tinha irritado Deus, e que para recobrar a saúde deveria fazer um donativo à Igreja, uma peregrinação a um lugar sagrado e rezar fervorosamente por perdão. Ou então a bruxa da aldeia poderia explicar que você estava sob a possessão de um demônio e que ela poderia expulsar o demônio por meio de uma canção, uma dança e o sangue de um galo preto.
No Oriente Médio, médicos formados nas tradições clássicas poderiam explicar que seus quatro humores corporais estavam desequilibrados, e você deveria harmonizá-los com uma dieta adequada e poções fedidas. Na Índia, especialistas aiurvédicos apresentariam suas próprias teorias sobre os três elementos corporais conhecidos como doshas e recomendariam um tratamento de ervas, massagens e posições de ioga. Médicos chineses, xamãs siberianos, médicos feiticeiros africanos, curandeiros ameríndios — todo império, reino e tribo tinha suas próprias tradições e seus especialistas, cada um adotando uma visão diferente do corpo humano e da natureza da doença, cada um oferecendo seu próprio manancial de rituais, preparados e curas.
Alguns deles trabalhavam surpreendentemente bem, enquanto outros eram quase uma sentença de morte. A única coisa que unia práticas médicas europeias, chinesas, africanas ou americanas era que em toda parte no mínimo um terço das crianças morriam antes de se tornarem adultas, e a expectativa de vida média era bem abaixo dos cinquenta anos (14).
Hoje, se você adoecer, faz muito menos diferença o lugar onde vive. Em Toronto, Tóquio, Teerã ou Tel Aviv, será levado a hospitais parecidos, onde vai encontrar médicos com aventais brancos que aprenderam as mesmas teorias científicas nas mesmas faculdades de medicina. Seguirão protocolos idênticos e farão exames idênticos para chegar a diagnósticos muito semelhantes. Esses médicos vão prescrever os mesmos remédios produzidos pelas mesmas companhias farmacêuticas internacionais. Ainda há pequenas diferenças culturais, mas os médicos canadenses, japoneses, iranianos e israelenses têm quase os mesmos conceitos sobre o corpo humano e as doenças. Quando o Estado Islâmico capturou Raqqa e Mossul, não destruiu os hospitais locais. Ao contrário, lançou um apelo a médicos e enfermeiras muçulmanos em todo o mundo para irem prestar serviço como voluntários (15). Ao que tudo indica, até mesmo médicos e enfermeiras islâmicos acreditam que o corpo é formado por células, que doenças são causadas por patógenos e que antibióticos matam bactérias.
E de que são feitas essas células e bactérias? Na verdade, de que é feito o mundo? Mil anos atrás toda cultura tinha sua própria narrativa sobre o universo, e sobre os ingredientes fundamentais da sopa cósmica. Hoje, pessoas instruídas em todo o mundo acreditam nas mesmas coisas quanto a matéria, energia, tempo e espaço. Tome, por exemplo, os programas nucleares iraniano e norte-coreano. O problema é que os iranianos e os norte-coreanos têm exatamente a mesma visão da física que têm os israelenses e os americanos. Se iranianos e norte-coreanos acreditassem que E = mc4, Israel e Estados Unidos não precisariam se incomodar nem um pouco com seus programas nucleares.
As pessoas ainda têm religiões e identidades nacionais diferentes. Mas quando se trata de coisas práticas — como construir um Estado, uma economia, um hospital ou uma bomba — quase todos nós pertencemos à mesma civilização. Há discórdia, sem dúvida, mas todas as civilizações têm suas disputas internas. Na verdade, elas são definidas por essas disputas. Ao tentar resumir sua identidade, frequentemente as pessoas fazem uma espécie de lista de traços comuns. É um erro. Estariam mais bem servidas se fizessem uma lista de conflitos e dilemas comuns. Por exemplo, em 1618 a Europa não tinha uma única identidade religiosa — era definida por conflito religioso. Ser um europeu em 1618 significava estar obcecado por pequenas diferenças doutrinárias entre católicos e protestantes, ou entre calvinistas e luteranos, e estar disposto a matar e ser morto por causa dessas diferenças. Se um ser humano em 1618 não se incomodasse com conflitos religiosos, essa pessoa talvez fosse turca ou hindu, mas certamente não era europeia.
Da mesma forma, em 1940 a Inglaterra e a Alemanha tinham valores políticos muito diferentes, mas ambas eram parte da “civilização europeia”. Hitler não era menos europeu que Churchill. Ao contrário, a luta entre eles definia o que significava ser europeu naquela conjuntura particular na história. Em contraste, um caçador-coletor !kung em 1940 não era europeu porque o embate interno na Europa sobre raça e império faria pouco sentido para ele.
As pessoas com quem brigamos mais frequentemente são membros de nossa própria família. A identidade é definida mais por conflitos e dilemas do que por concordâncias. O que significa ser europeu em 2018? Não significa ter pele branca, acreditar em Jesus Cristo ou preservar a liberdade, e sim discutir veementemente sobre imigração, sobre a União Europeia e sobre os limites do capitalismo. Significa também perguntar a si mesmo obsessivamente “o que define minha identidade?” e preocupar-se com uma população cada vez mais idosa, o consumismo galopante e o aquecimento global. Em seus conflitos e dilemas, os europeus do século XXI são diferentes de seus ancestrais de 1618 e 1940, mas cada vez mais semelhantes a seus parceiros comerciais chineses e indianos.
Sejam quais forem as mudanças que nos esperam no futuro, elas provavelmente envolverão uma luta fraternal dentro de uma única civilização e não um embate entre civilizações estranhas. Os grandes desafios do século XXI serão de natureza global. O que acontecerá quando a mudança climática provocar catástrofes ecológicas? O que acontecerá quando computadores sobrepujarem os humanos em uma quantidade cada vez maior de tarefas, e os substituírem em um número cada vez maior de empregos? O que vai acontecer quando a biotecnologia nos permitir aprimorar os humanos e estender a duração da vida? Sem dúvida teremos enormes discussões e conflitos amargos quanto a essas questões. Mas não é provável que essas discussões e esses conflitos nos isolem uns dos outros. Exatamente o contrário. Eles nos tornarão mais interdependentes. Embora o gênero humano esteja longe de constituir uma comunidade harmoniosa, somos todos membros de uma única e conflituosa civilização global.
Mas a questão que Harari não aborda aqui é que esta civilização ainda é a civilização patriarcal. Ou seja, ela é única não como resultado dos esforços humanos em unificá-la e sim, pelo contrário, porque não se conseguiu ainda sair de um mesmo padrão civilizatório que vem se replicando há milênios. Para entender esse ponto de vista leia Um texto seminal de Humberto Maturana.
Como explicar, então, a onda nacionalista que varre a maior parte do mundo? Talvez em nosso entusiasmo pela globalização tenhamos sido apressados demais ao desconsiderar as boas e velhas nações? Poderia a volta ao nacionalismo tradicional ser a solução para nossa desesperada crise global? Se a globalização traz com ela tantos problemas — por que não simplesmente abandoná-la?
Notas
1. Samuel P. Huntington, The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order (Nova York: Simon & Schuster, 1996). David Lauter e Brian Bennett, “Trump Frames Anti-Terrorism Fight As a Clash of Civilizations, Defending Western Culture against Enemies” (Los Angeles Times, 6 jul. 2017). Disponível em:
<http://www.latimes.com/politics/la-na-pol-trump-clash-20170706-story.html>. Acesso em: 29 jan. 2018. Naomi O’Leary, “The Man Who Invented Trumpism: Geery Wilders’ Radical Path to the Pinnacle of Dutch Politics” (Politico, 23 fev. 2017). Disponível em: <https://www.politico.eu/article/the-man-who-invented-trumpism-geert- wilders-netherlands-pvv-vvd-populist/>. Acesso em: 31 jan. 2018.
2. Pankaj Mishra, From the Ruins of Empire: The Revolt Against the West and the Remaking of Asia (Londres: Penguin, 2013); Mishra, Age of Anger, op. cit.; Christopher de Bellaigue, The Muslim Enlightenment: The Modern Struggle between Faith and Reason (Londres: The Bodley Head, 2017).
3. “Treaty Establishing a Constitution for Europe” (European Union, 2005). Disponível em:
<https://europa.eu/european-union/sites/europaeu/files/docs/body/treaty_establishing_a_constitution_for_europe_en.pdf>. Acesso em: 18 out. 2017.
4. Phoebe Greenwood, “Jerusalem Mayor Battles Ultra-Orthodox Groups over Women-Free Billboards” (The Guardian, 15 nov. 2011). Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2011/nov/15/jerusalem-mayor-battle- orthodox-billboards>. Acesso em: 7 jan. 2018
5. Disponível em: <http://nypost.com/2015/10/01/orthodox-publications-wont-show-hillary-clintons-photo/>. Acesso em: 19 jun. 2018.
6. Simon Schama, The Story of the Jews: Finding the Words 1000 BC — 1492 AD (Nova York: Ecco, 2014, pp. 190-7). Hannah Wortzman, “Jewish Women in Ancient Synagogues: Archaeological Reality vs. Rabbinical Legislation” (Women in Judaism, v. 5, n. 2, 2008). Disponível em:
<http://wjudaism.library.utoronto.ca/index.php/wjudaism/article/view/3537>. Acesso em: 29 jan. 2018. Ross S. Kraemer, “Jewish Women in the Diaspora World of Late Antiquity”, in Judith R. Baskin (Org.), Jewish Women in Historical Perspective (Detroit: Wayne State University Press, 1991, esp. p. 49). Hachlili Rachel, Ancient Synagogues — Archaeology and Art: New Discoveries and Current Research (Leiden: Brill, 2014, pp. 578-81); Zeev Weiss, “The Sepphoris Synagogue Mosaic: Abraham, the Temple and the Sun God — They’re All in There” (Biblical Archeology Society, v. 26, n. 5, pp. 48-61, 2000); David Milson, Art and Architecture of the Synagogue in Late Antique Palestine (Leiden: Brill, 2007, p. 48).
7. Ivan Watson e Pamela Boykoff, “World’s Largest Muslim Group Denounces Islamist Extremism” (CNN, 10 maio 2016). Disponível em: <http://edition.cnn.com/2016/05/10/asia/indonesia-extremism/index.html>. Acesso em: 8 jan. 2018. Lauren Markoe, “Muslim Scholars Release Open Letter To Islamic State Meticulously Blasting Its Ideology” (Huffington Post, 25 set. 2014). Disponível em: <https://www.huffingtonpost.com/2014/09/24/muslim-scholars- islamic-state_n_5878038.html>. Acesso em: 8 jan. 2018. Para a carta, veja: “Open Letter to Al-Baghdadi”. Disponível em: <http://www.lettertobaghdadi.com/>. Acesso em: 8 jan. 2018.
8. Chris Perez, “Obama Defends the ‘True Peaceful Nature of Islam’” (New York Post, 18 fev. 2015). Disponível em: <http://nypost.com/2015/02/18/obama-defends-the-true-peaceful-nature-of-islam/>. Acesso em: 17 out. 2017. Dave Boyer, “Obama Says Terrorists Not Motivated By True Islam” (Washington Times, 1 fev. 2015). Disponível em:
<http://www.washingtontimes.com/news/2015/feb/1/obama-says-terrorists-not-motivated-true-islam/>. Acesso em: 18 out. 2017.
9. De Bellaigue, The Islamic Enlightenment, op. cit.
10. Christopher McIntosh, The Swan King: Ludwig ii of Bavaria (Londres: I. B. Tauris, 2012, p. 100).
11. Robert Mitchell Stern, Globalization and International Trade Policies (Hackensack: World Scientific, 2009, p. 23).
12. John K. Thornton, A Cultural History of the Atlantic World, 1250-1820 (Cambridge: Cambridge University Press, 2012, p. 110).
13. Susannah Cullinane, Hamdi Alkhshali e Mohammed Tawfeeq, “Tracking a Trail of Historical Obliteration: ISIS Trumpets Destruction of Nimrud” (CNN, 14 abr. 2015). Disponível em:
<http://edition.cnn.com/2015/03/09/world/iraq-isis-heritage/index.html>. Acesso em: 18 out. 2017.
14. Kenneth Pomeranz, The Great Divergence: China, Europe and the Making of the Modern World Economy (Princeton; Oxford: Princeton University Press, 2001, pp. 36-8).
15. “ISIS Leader Calls for Muslims to Help Build Islamic State in Iraq” (CBCNEWS, 1 jul. 2014). Disponível em:
<http://www.cbc.ca/news/world/isis-leader-calls-for-muslims-to-help-build-islamic-state-in-iraq-1.2693353>. Acesso em: 18 out. 2017. Mark Townsend, “What Happened to the British Medics Who Went to Work for ISIS?” (The Guardian, 12 jul. 2015). Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2015/jul/12/british-medics-isis-turkey- islamic-state>. Acesso em: 18 out. 2017.