Um curso online sobre as novas visões emergentes no

século 21, do ponto de vista das redes e da democracia

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O QUE É O CURSO NOVOS PENSADORES?

É um curso online sobre as novas visões emergentes no século 21, do ponto de vista das redes e da democracia. Novas visões da humanidade, da história humana, da civilização, da cultura, da sociedade, da comunidade, da política, da sabedoria, da inteligência humana, da criatividade e da inovação, da educação, da filosofia e da ciência.

QUAL O OBJETIVO DO CURSO?

O objetivo é entrar em contato com os novos pensadores que estão tratando desses assuntos nas fronteiras do conhecimento, porém ousando ser também um novo pensador. É o contrário de tentar reinterpretar o passado apoiando-se na visão de grandes pensadores clássicos, escolhidos cuidadosamente pelo seu potencial de modificar o passado para predeterminar um caminho para o futuro. Na sociedade-em-rede todos seremos pequenos pensadores (numa época em que small is desirable, beautiful and empowerful) em vez de nos ajoelharmos diante desse ou daquele suposto sumo-sacerdote do conhecimento, de ser seguidores fiéis de uma doutrina ou súditos intelectuais de algum mestre.

COMO VAI FUNCIONAR O CURSO?

Será um programa semanal ao vivo, transmitido pela internet, todas as segundas-feiras, das 20 às 22 horas, com possibilidade de interação. Os participantes enviarão suas perguntas ou observações por escrito para serem respondidas durante a transmissão.

QUANDO O CURSO VAI COMEÇAR?

O programa iniciou no dia 8 de janeiro de 2018 e não tem dia para terminar. As pessoas podem entrar e sair a qualquer momento e podem acompanhar o curso por seis meses, um ano ou vários anos. As aulas anteriores ficarão gravadas e disponíveis aos inscritos. Os temas já tratados serão novamente abordados ao vivo ao final de cada ciclo (mas a duração dos ciclos não está pré-determinada).

QUEM VAI CONDUZIR O CURSO?

A investigação será conduzida por Augusto de Franco.

QUAL É O PROGRAMA DO CURSO?

Há um roteiro inicial de investigação que parte sempre do questionamento dos entendimentos usuais sobre os temas do curso. O programa é aberto porque a conversação sobre cada um dos temas elencados evocará outros temas conexos que, por sua vez, ao serem objeto de investigação, remeterão ao reexame dos assuntos originais. O fato de ser um programa aberto significa também que ele será um exercício permanente de pensamento, digamos, fora da caixa ou na contramão do rebanho. E tal exercício não tem fim.


PROGRAMA INICIAL

Você fala REDE A pessoa entende INTERNET
Você fala REDE SOCIAL A pessoa entende MÍDIA SOCIAL (COMO O FACEBOOK)
Você fala INTERAÇÃO A pessoa entende PARTICIPAÇÃO
Você fala COMUNICAÇÃO A pessoa entende transmissão de INFORMAÇÃO
Você fala PADRÃO A pessoa entende MODELO
Você fala DISTRIBUIÇÃO A pessoa entende DESCENTRALIZAÇÃO
Você afirma que NÃO EXISTE HIERARQUIA NA NATUREZA (não-humana) A pessoa retruca com os exemplos do formigueiro e da colmeia, com suas "RAINHAS"
Você fala ORGANIZAÇÃO A pessoa entende HIERARQUIA
Você fala LÍDER A pessoa entende CHEFE
Você fala COLABORAÇÃO A pessoa entende satisfação de INTERESSE MÚTUO
Você fala TRANSIÇÃO A pessoa entende SUBSTITUIÇÃO
Você fala SOCIAL A pessoa entende CONJUNTO DE INDIVÍDUOS
Você fala FLUXO A pessoa não entende...
Você fala PESSOA A pessoa entende INDIVÍDUO
Você fala SOCIEDADE A pessoa entende PAÍS (ou ESTADO-NAÇÃO)
Você fala POLÍTICA A pessoa entende LUTA PARA CONQUISTAR E MANTER O PODER
Você diz que o sentido da política não é a igualdade, mas a LIBERDADE A pessoa entende que você está justificando a DESIGUALDADE
Você fala DEMOCRACIA A pessoa entende ELEIÇÃO
Você critica a DEMOCRACIA REPRESENTATIVA A pessoa acha que você está propondo alguma forma de DEMOCRACIA DIRETA OU PARTICIPATIVA
Você fala PÚBLICO A pessoa entende ESTATAL
Você fala BEM COMUM A pessoa entende SEM DONO
Você fala PAZ A pessoa entende AUSÊNCIA DE CONFLITO
Você fala GUERRA A pessoa entende VIOLÊNCIA
Você fala REVOLUÇÃO A pessoa entende TOMADA DO PODER (DE ESTADO)
Você fala que a democracia valoriza igualmente qualquer OPINIÃO A pessoa acha que você está desvalorizando o SABER
Você fala de honra ao MÉRITO A pessoa pensa que você está defendendo uma MERITOCRACIA
Você fala que os democratas sempre foram MINORIA A pessoa interpreta que esta é uma ideia de ELITE
Você critica o POPULISMO A pessoa acha que isso é ELITISMO
Você diz que não concorda com as ideias da DIREITA A pessoa acha que é porque você é de ESQUERDA
Você diz que não concorda com as ideias da ESQUERDA A pessoa acha que é porque você é de DIREITA
Você fala POBREZA A pessoa entende INSUFICIÊNCIA DE RENDA
Você fala GLOBALIZAÇÃO A pessoa entende GLOBALISMO
Você escreve GLOCALIZAÇÃO A pessoa acha que é um erro de digitação...
Você fala em ECONOMIA DE MERCADO A pessoa acha que você defende uma SOCIEDADE COMPETITIVA
Você fala LIVRE MERCADO A pessoa acha que você está defendendo o CAPITALISMO
Você critica o CAPITALISMO A pessoa conclui que você defende o SOCIALISMO
Você fala LIBERALISMO A pessoa entende que você está se referindo a uma doutrina do LIBERALISMO ECONÔMICO
Você critica o ESTATISMO A pessoa conclui que você defende algum tipo de MERCADOCENTRISMO
Você aponta os limites do INDIVIDUALISMO A pessoa acha que você defende algum tipo de COLETIVISMO
Você diz que a DEMOCRACIA É UM VALOR UNIVERSAL A pessoa entende que a DEMOCRACIA É UM VALOR OCIDENTAL
Você fala na HISTÓRIA DA HUMANIDADE A pessoa entende HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO (PATRIARCAL)
Você diz que a democracia não precisa de doutrina, é SEM DOUTRINA A pessoa entende que você está defendendo uma nova DOUTRINA
Você diz que a democracia não é o governo de todos, mas de QUALQUER UM A pessoa, simplesmente, não entende...
Você fala APRENDER A pessoa entende adquirir mais CONHECIMENTO
Você fala APRENDIZAGEM A pessoa entende ENSINO (OU EDUCAÇÃO)
Você fala AMBIENTE DE APRENDIZAGEM A pessoa entende ESCOLA
Você fala COCRIAÇÃO A pessoa entende reunião de DISCUSSÃO
Você diz que a liberdade é a LIBERDADE DE NÃO TER RUMO A pessoa retruca que nenhum vento pode lhe ser favorável se você não sabe para onde ir
Você fala ESPIRITUALIDADE A pessoa entende RELIGIÃO
Você critica a RELIGIÃO A pessoa acha que você é ATEU
Você fala LAICO A pessoa entende ATEU

A reflexão sobre esses desentendimentos que dificultam (e, às vezes, até inviabilizam) a conversação levou à iniciativa chamada NOVOS PENSADORES. O roteiro acima foi pensado para balançar as convicções dos seguidores de doutrinas ou dos que repetem, sem perceber, os pensamentos alinhados a determinadas ideologias ou visões de mundo que circulam amplamente nas academias, nas organizações da sociedade e do Estado, nas empresas, nos meios de comunicação e, inevitavelmente, nas conversas informais em grupos de pessoas em qualquer lugar. Como as conversações acabam gerando circularidades inerentes, essas visões vão virando uma cultura, ou seja, vão se replicando, como que automaticamente, mesmo sem a intenção dos interagentes de propagá-las. De sorte que, para citar dois exemplos, “todo mundo sabe” que não se pode organizar nada sem um mínimo de hierarquia ou “todo mundo sabe” que não se pode mobilizar a ação coletiva sem lideranças destacadas. Quando se tem a sensação de que “todo mundo sabe” é sinal de que determinada visão particular – tomada por geral e evidente por si mesma – já virou uma cultura.

Mudar uma cultura não é tarefa fácil. É necessário questionar os fundamentos do que “todo mundo sabe”, interrompendo as circularidades que se estabelecem em conversações recorrentes. Por isso foram escolhidos os temas da tabela acima, para constituir uma espécie de programa aberto sobre as novas visões emergentes do mundo no dealbar deste século 21, do ponto de vista das redes e da democracia.

Em termos práticos um programa como este, se conduzido por uma pessoa, só pode se materializar como uma espécie de curso (na verdade, um percurso sem resultado esperado a não ser ensejar o pensamento desviante que não repete, mas cria seus próprios caminhos e, assim, talvez fosse melhor chamá-lo de descurso – se isso não dificultasse tanto a compreensão).

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Continue lendo para saber mais...

QUAL É O PROGRAMA DO CURSO?

Depois de 5 a 6 milênios de sociedade hierárquica, o padrão civilizatório atual entrou em crise. Essa crise só poderia ser uma crise global e de longa duração. A emergência de uma sociedade-em-rede (que apareceu, num primeiro momento, confundida com o processo de globalização econômica, mas também, inevitavelmente, cultural e das comunicações) já é a transição do atual padrão civilizatório para outro padrão (que sabemos que será um padrão de rede, mas não sabemos exatamente como será).

Mas transição não é substituição. Não há nada pronto para colocar no lugar das velhas instituições em crise. As velhas formas de agenciamento que estão fenecendo coexistirão ainda, por longo tempo, com as novas formas que estão emergindo. E, nestas circunstâncias, seria mesmo de se esperar que as instituições de um mundo que está acabando reagiriam ferozmente à sua extinção ou à sua obsolescência. Por isso há tanta luta, tanto ódio entre seguidores de diversas doutrinas. Por isso tantas doutrinas anacrônicas, que imaginávamos já ultrapassadas e enterradas, estão renascendo.

Tamanha confusão intelectual deixa as pessoas perdidas, mais suscetíveis à tentação de encontrar um mestre, um guia, uma nova religião ou doutrina, um codex verdadeiro, que consiga explicar o mundo para elas.

Em momentos de crise profunda, como o que vivemos, as pessoas ficam esperando o surgimento de alguém que traga alguma luz, ajude a compreender a situação e indique um caminho. Infelizmente, porém, os que achamos que poderiam fazer isso também estão em crise. Estão errando, ou melhor, indo e voltando, caminhando em zigue-zague, porque estão, como todos nós, buscando uma resposta.

Só os autoritários e os impostores têm uma resposta pronta, na ponta da língua, para qualquer problema. Querem nos dizer que já sabiam de tudo há muito tempo e que encontraram a solução correta. É bom desconfiar desses “sábios” cheios de certezas: em geral são candidatos a condutores rebanhos ou oportunistas tentando se capitalizar na crise.

Agora, todos nós estamos desafiados a exercitar a nossa própria imaginação, construir a nossa própria racionalidade (ou encontrar a nossa própria interpretação da realidade). Ninguém pode fazer isso por nós. Isso exige pensamento compartilhado. Por isso, não devemos mais seguir a alguém. Devemos seguir – ou seja, continuar errando (quer dizer, procurando) – com os que se sintonizam conosco. O caminho do erro (que é o caminho da aprendizagem) – desde que estejamos abertos à interação – é melhor do que o acerto em repisar um caminho que não foi aberto com nós e sim por alguém para nós (que é o caminho do ensino ou, melhor, da ensinagem).

A crise do padrão civilizatório também é uma crise do pensamento (das pessoas que pensaram em sintonia com esse padrão). Assim, para dar um exemplo, talvez o melhor exemplo, é uma crise do platonismo e dos pensamentos dos que se conformaram à definição platônica do que seriam filósofos. Quando Platão disse que Protágoras não era filósofo (e, por extensão, Górgias, Pródicos, Hípias, Antífon, Trasímaco, Cálicles, Eutidemo e Dionisodoro, entre tantos outros, também não eram), estava perfeitamente sintonizado com um modo patriarcal de pensar. Todos esses sofistas – não apenas refutados intelectualmente, mas julgados moralmente e condenados por Platão – seriam pequenos pensadores, em oposição ao grande pensador (“o filósofo”).

De lá para cá as academias (efluentes do platonismo) nos ensinaram a desvalorizar os pequenos pensadores – o homem comum que pensa com sua própria cabeça e com a mente coletiva do seu emaranhado social, desvalorizando a sua opinião em relação ao conhecimento filosófico (ou filosoficamente considerado científico) dos grandes pensadores.

Mas agora, quando o padrão civilizatório entra em crise, os pensamentos dos velhos pensadores também entram em crise porque não podem fornecer respostas para problemas que estão implicados nas condições que permitiram a sua geração.

Por isso pode-se dizer que é hora de novos pensadores. Que, em uma sociedade-em-rede, todos seremos pequenos pensadores. E que isso não é ruim e sim bom (ao contrário do que os pensamentos patriarcais costumavam avaliar, sempre privilegiando o grande em relação ao pequeno, o alto em relação ao baixo, o puro em relação ao impuro, o certo em relação ao errado).

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QUEM SÃO OS NOVOS PENSADORES

O objetivo de qualquer programa para estimular o surgimento de novos pensadores é entrar em contato com os novos pensadores que estão tratando desses assuntos nas fronteiras do conhecimento, porém ousando ser também um novo pensador.

Mas a partir de quais referências vamos pensar sobre os grandes temas com um pensamento de fronteira? Parece evidente que, se vamos repensar os temas gerais do presente curso do ponto de vista das redes e da democracia, teremos de conhecer os principais pensadores das redes e da democracia. E não só, mas também os pensadores que contribuíram para criar o clima intelectual que permitiu a emergência de novas visões sobre esses temas. Vejamos alguns exemplos.

PENSADORES DAS REDES E DA SOCIEDADE-EM-REDE

Dentre os teóricos das redes (e da sociedade-em-rede) convém visitar o trabalho de investigadores como Albert Barabasi, Duncan Watts, Fernando Veja-Redondo, Fritjof Capra, Jacob Moreno, Jane Jacobs, Jure Leskovec, Manuel Castells, Manuel Delanda, Nicholas Christakis, Pierre Lèvy e Steven Strogatz, entre outros. Também vale a pena conhecer os antecessores (ou precursores) de um pensamento sobre redes, como – para citar apenas alguns exemplos notáveis – Buckminster Fuller, Francisco Varela, Gregory Bateson, Heinz von Foerster, John von Neumann, Ludwig von Bertalanffy e Norbert Wiener.

Albert-László Barabási


Buckminster Fuller


Duncan Watts


Fernando Vega-Redondo


Francisco Varela



Fritjof Capra


Gregory Bateson


Heinz von Foerster


Jacob Moreno


Jane Jacobs



John von Neumann


Jure Leskovec


Ludwig von Bertalanffy


Manuel Castells


Manuel DeLanda



Nicholas Christakis


Norbert Wiener


Pierre Levy


Steven Strogatz


Você



PENSADORES DA DEMOCRACIA E DISTOPISTAS

Dentre os pensadores da democracia, não se pode deixar de conhecer, entre outros (em ordem alfabética): Alexis de Tocqueville, Amartya Sen, Baruch Spinoza, Claude Lefort, Cornelius Castoriadis, Francis Fukuyama, Hannah Arendt, Henry Thoreau, Humberto Maturana, Isaiah Berlin, Jacques Rancière, Jean-Jacques Rousseau, Johannes Althusius, John Dewey, John Rawls, John Stuart Mill, Karl Popper, Norberto Bobbio, Ralf Dahrendorf, Robert Dahl, Thomas Paine. Mas como a democracia é um processo de desconstituição de autocracia (e aprender democracia é desaprender autocracia), não podem ficar de fora os principais distopistas, como Aldous Huxley, Alexander Soljenítsin (este narrando uma experiência concreta de sofrimento humano em uma distopia real), Arthur Koestler, George Orwell, Jerome Klapka Jerome, Ray Bradbury, William Golding e Yevgeny Zamyatin.

Aldous Huxley


Alexander Soljenitsin


Alexis de Tocqueville


Amartya Sen


Arthur Koestler



Baruch Spinoza


Claude Lefort


Cornelius Castoriadis


Francis Fukuyama


George Orwell



Hannah Arendt


Henry Thoreau


Humberto Maturana


Isaiah Berlin


Jacques Ranciere



Jean Jacques Rousseau


Jerome Klapka Jerome


Johannes Althusius


John Dewey


John Rawls



John Stuart Mill


Karl Popper


Norberto Bobbio


Ralf Dahrendorf


Ray Bradbury



Robert Dahl


Thomas Paine


William Golding


Yevgeny Zamyatin


Você


E ALÉM...

É claro que é bom conhecer, além disso, alguns pensadores “fora da caixa”. Por exemplo, os que escreveram sobre educação – e o tema é particularmente relevante na medida em que se refere à programação de controle para repetir passado – de um ponto de vista heterodoxo, como Carl Roger, Ivan Illich, John Holt e Liev Tolstoi (para não falar de Friedrich Nietzsche). E também algumas mentes inquisitivas em geral, em todos os campos, da psicologia à história, passando pela biologia, pela epistemologia, pelas formas não-religiosas de espiritualidade, como Alfred North Whitehead, Carl Jung, Calors Castaneda, Daniel Quinn, Edgar Morin, Hakim Bey, James Hillman, Jiddu Krishnamurti, Lynn Margulis, Marshall McLuhan, Osho, Paul Feyerabend, Ralph Abraham, William Irwin Thompson. Sem esquecer, é claro, dos ficcionistas que, de certa forma, anteciparam futuro, como Bruce Sterling, Frank Herbert, Isaac Asimov, Philip Dick e William Gibson.

Alfred North Whitehead


Bruce Sterling


Carl Jung


Carlos Castaneda


Carl Roger



Daniel Quinn


Edgar Morin


Frank Herbert


Friedrich Nietzsche


Hakim Bey



Isaac Asimov


Ivan Illich


James Hillman


Jiddu Krishnamurti


John Holt



Liev Tolstoi


Lynn Margulis


Marshall McLuhan


Osho


Paul Feyerabend



Philip Dick


Ralph Abraham


William Gibson


William Irwin Thompson


Você



NÃO ESTÁ FALTANDO MUITA GENTE AQUI?

É evidente que todas essas listas (apresentadas sempre em ordem alfabética) – cumprindo apenas um papel demonstrativo ou ilustrativo – são incompletas e contêm mesmo graves e imperdoáveis omissões, mas elas têm algo em comum. Todas (ou quase todas) as pessoas citadas foram, nas suas respectivas épocas e lugares, novos pensadores, não apenas no sentido de que tiveram novas ideias e sim que pensaram o que pensaram (e sobre o que pensaram) de uma nova maneira, rompendo a repetição de passado conhecida como tradição. Ao fazerem isso, criaram, por assim dizer, outras tradições (o que significa escapar da tradição).

É bom ter em mente, antes de qualquer coisa, que o novo pensador é você. Estimular o surgimento de novos pensadores, de certo modo, é dizer que, numa sociedade-em-rede, todos seremos pequenos pensadores. Ou seja, equivale a dizer que devemos abandonar a velha atitude genuflexória em relação aos grandes pensadores. Sim, sempre é bom conhecer o que eles pensaram, mas não mais numa perspectiva cultica.

É claro que conhecimentos novos partem de conhecimentos antigos e pensa-se sempre com os pensamentos dos outros, mas o fundamental aqui é pensar com a própria cabeça em interação com os outros (mesmo que estejam mortos: e, neste caso, trata-se de revivificá-los).

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CONVERSANDO COM OS MORTOS

Sim, deve-se investigar o pensamento dos pensadores do passado, mas a atitude inovadora é sempre a de relê-los no presente, tentando imaginar como eles pensariam diante dos desafios que estão diante de nós. Ou seja, é preciso conversar com os mortos, concordar com eles, às vezes, e contradizê-los, outras vezes, em vez de apenas reproduzir os ecos, no presente, do que eles disseram, no passado. Mais do que isso, é preciso evocá-los (ou invocá-los) para que eles se manifestem sobre problemas que não existiam na sua época. Do contrário eles permanecerão mortos.

De certo modo, isso significa conversar com os mortos, mas tornando-os vivos, quer dizer, lidando com os seus pensamentos que continuam vivos, através de nós, no ambiente em que estamos, em vez de tentar reproduzir, no presente, pensamentos mortos (que foram guardados, in vitro), como se fossemos decoradores de doutrinas ou máquinas arquivadoras. Se você consegue fazer isso, torna-se um novo pensador.

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UM PERCURSO NEOSOFISTA DE INVESTIGAÇÃO

Não há ideia criada por um (único) sujeito. Toda ideia é cocriada. Toda ideia é clone de outras ideias (talvez com exceção da ideia de nada, mas mesmo esta, quando vira conceito de uma tradição religiosa – como o budismo -, já carrega aderências doutrinárias que são introduzidas pelos que a repetem em contextos distintos e, assim, de algum modo a interpretam e atualizam, quer dizer, a modificam).

Se você pensa com ideias, pensa sempre com o pensamento dos outros, mas é preciso ver que há duas atitudes básicas aqui. A primeira atitude é a do erudito, mais afeito à cultura livresca e à acumulação de conhecimento ensinado (ou recebido), que reproduz e interpreta essas ideias (dos outros) querendo manter-se fiel ao seu suposto sentido original (o que, a rigor, é impossível). A segunda atitude e a do livre-pensador que clona essas ideias, introduzindo variações que ocorrem em função das nuvens interativas em que está imerso, recriando-as de acordo com um fluxo do pensamento presente (que é sempre eventual e fortuito: o que é inaceitável pelos que querem a segurança da reprodução fiel das velhas ideias). Na verdade, todos fazem, querendo ou não, a operação descrita na segunda atitude. Mas não pensam sobre o que pensam da mesma maneira. E isso faz muita diferença, não propriamente em termos de conteúdo e sim do processo mesmo de pensar. Novos pensadores são novos não apenas porque tenham novas ideias (sim, eles também as terão) e sim porque pensam de uma nova maneira, open, sem medo de sujar ou deturpar os sentidos aceitos e autorizados pelos fiscais e juízes dos pensamentos alheios (reunidos em alfândegas ideológicas e tribunais epistemológicos em que se transformaram as academias).

Novos pensadores não são avalizadores da fidelidade de reproduções autorais e sim miscigenadores, livres porque podem ser infiéis às origens da matéria com que trabalham. Os sofistas foram novos pensadores, para desespero de Platão. Há um problema epistemológico de fundo aqui: quando alguém se entrega ao fluxo do pensamento presente não consegue separar a doxa (opinião) da episteme (conhecimento), nem subordinar a primeira à segunda.

A possibilidade de criar tem a ver com kairos, não com kronos. Quando um emaranhado de opiniões (atenção: não uma sistematização de conhecimentos) se conforma segundo determinadas configurações favoráveis à inovação, os novos pensadores aproveitam a oportunidade que se oferece naquele momento, pois sabem que as janelas se fecham rapidamente. Pois tudo é fluxo.

No que tange aos diferentes tipos de logos, os sofistas, como se sabe (ou melhor, não se sabe), estavam preocupados com o kairos ou a escolha do tempo adequado. E o kairos não é algo a ser alcançado pelo conhecimento (episteme) — é mais próprio da opinião (doxa).

Por isso, um curso (ou percurso de investigação) para novos pensadores, tem um caráter sofista (ou neosofista).

Vale observar, entretanto, que em termos de visão de mundo, não há uma construção objetiva ao longo do tempo a não ser para quem encadeia uma coisa na outra para construir uma linha imaginária (portanto, subjetiva) de sucessão ou evolução do pensamento.

O novo pensador, portanto, é o que inventa linhas imaginárias (e é isso que significa, de um ponto de vista, no caso, filogenético, “criar conceitos”, como observaram Gilles Deleuze e Félix Guattari (1991), em O que é filosofia, ao dizerem que “a filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”) e, de certo modo, gera uma nova realidade cognoscível ou apreensível na medida em que inventa a sua explicação sobre ela.

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AUGUSTO DE FRANCO

Este curso parte da minha própria experiência como livre investigador dos temas escolhidos para compor o seu roteiro inicial. Não será um curso online de filosofia. Não sou filósofo, no sentido em que Platão usou o termo (e que se consagrou como definição oficial de filosofia), e sim no sentido geral em que Wittgenstein tomou a palavra filosofia: explorações que tentam articular construções de pensamentos de sorte a torná-los claros e definidos (sim, isto é filosofia, na acepção nua e crua de Ludwig Wittgenstein).

Platão, aliás, foi o responsável por empregar o termo filósofo com objetivos doutrinários, para fins de disputa e propósito odioso de separação. Eis aí a origem do julgamento hostil de Platão (e Aristóteles) sobre os sofistas, que não seriam, segundo eles, filósofos. Pior: além de não serem filósofos, os sofistas seriam inimigos da filosofia. E, ainda por cima, os sofistas, segundo Platão, eram imorais (ou amorais). A justificativa para tão cruel – ademais de incorreto e calunioso – juízo era mais ou menos a seguinte: verdade e realidade eram objetivas, não subjetivas; logo, todos os que negassem isso se opunham à verdade e à realidade. E defender o ponto de vista segundo o qual o certo e o errado eram subjetivamente determináveis significava negar totalmente a validade dos valores morais. Pura doutrina.

Sou mais um cientista, ou seja, alguém dedicado a formular teorias que nascem de processos de observação-investigação-explicação realizados segundo certos critérios epistemológicos (isto é ciência). Mas, mesmo assim, sou um cientista open science, na medida em que não aceito que ciência seja apenas produto da academia (e toda academia é platônica), propriedade da escola (que é o sentido original da palavra escolástica e que era mais platônica, como se conclui estudando Robert Grosseteste, do que aristotélica). Também não aceito que o único método científico válido seja o mecanicismo, segundo a visão dos epistemólogos da ciência que pontificaram a partir do final do século 19 e reinaram na primeira metade do século 20, imaginando que a filosofia da ciência fosse uma espécie de ciência da ciência, o que não passa de mais uma doutrina.

Tudo isso é atividade de pensamento, dos pensadores que pensam na contramão do rebanho, não aceitam as verdades decretadas pelos candidatos a pastores (ou condutores de rebanhos) e nem os juízos dos tribunais epistemológicos que assumiram a função de validar as explicações do mundo, que seriam as únicas legítimas e corretas (invalidando as demais), para ambos. O que também é doutrina (e, como tal, uma espécie de religião, como, aliás, mostrou Paul Feyerabend).

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